Foto: O Dia
- Guilherme Scarpa
- Direto do Rio de Janeiro
Tem gente que acha que o ator Ricardo Pereira é brasileiro, mas ficou famoso por interpretar portugueses na telinha. Também, pudera. Desde que veio para o Brasil, em 2004, para estrelar a novela das 18h Como uma Onda, o ator lusitano, de 31 anos, não teve um problema sequer de adaptação. “Tô longe de casa, brother! Mas me sinto no Brasil como se estivesse em Portugal. Fui muito bem acolhido”, diz ele, sem tropeçar em um “l”, “r” ou “s” que entregue a sua origem, e já com sotaque de carioca.
É que para viver Henrique, advogado que entrou semana passada na novela Insensato Coração, Ricardo está fazendo fonoaudiologia com o objetivo de perder o sotaque português. Na trama de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, além de viver seu primeiro personagem brasileiro, ele tem uma missão bem definida: conquistar o coração de Marina, personagem da atriz Paola Oliveira.
“Ele gosta dela de verdade. E é solteiro, desimpedido, bonito e bem vestido. O problema é que ela está focada no Pedro (Eriberto Leão). Mas não vai ter jeito. Como é persuasivo, o Henrique vai cercá-la, tentar ficar perto. É uma paixão sincera”, conta o ator, que já havia trabalhado com Paola Oliveira, mas em outra situação. “Fizemos a Dança dos Famosos, no Faustão. Ela ganhou e eu fiquei em quarto lugar (risos). Paola sempre me ajuda muito, é ótima, sabe muito bem o que quer e é superfocada”, derrama-se Ricardo.
Mas o que será que a artista plástica Francisca Pereira, com quem ele está casado desde julho do ano passado, sente quando vê as cenas do marido com a linda mocinha da novela? “Francisca é tranquila. Ela inclusive me ajuda a passar as cenas em casa. Mas, às vezes, a gente acaba se beijando demais… é fogo! E ela fala para mim: ‘Você não vai fazer isso tudo na cena, não é?’ Francisca não era de assistir novelas, mas agora fica querendo ler o meu texto para saber o que vai acontecer nos próximos capítulos. Eu digo: ‘Não pode contar a ninguém!’”, revela ele.
Insensato Coração, segundo Ricardo, representa uma grande virada em sua carreira. “É a minha primeira novela das oito. Quero trabalhar com personagens que não tenham uma ligação com meu país de origem. Quero estar livre, leve e solto para fazer o que pintar. É o primeiro passo da construção de uma mudança na minha trajetória profissional”, avalia ele.
Em meio à escassez de galãs na faixa dos 30 anos que ronda a TV Globo, Ricardo confessa que está recebendo um investimento pesado da emissora. “Galã? Presente! A Globo tem apostado muito em mim, tem me colocado para estudar, fazer cursos com diretores estrangeiros. Sou muito trabalhador. Agora sou da casa, depois de ter feito muitos trabalhos por obra. Estou disponível para ser um dos galãs do futuro¿, diz ele, sem modéstia, ao ver na emissora a possibilidade de atingir um público muito maior do que se estivesse trabalhando na terrinha. “A novela portuguesa não tem o mesmo alcance. Aqui, a coisa é cultural, enraizada. E as novelas da Globo são exibidas na SIC, em Portugal. A galera me recebe com um orgulho enorme”, diz o neocarioca.
Ricardo tem decorado o texto da trama ao lado de uma fonoaudióloga. “Eu estou começando a pensar em ‘português brasileiro’. Está sendo uma experiência linda. Não acho nada difícil. Às vezes, dou uma derrapada se me desconcentro. Mas é muito tempo de Brasil, já me acostumei a chamar de banheiro a ‘casa de banho’ e de descarga o ‘autoclismo’. Toda vez que vou a Portugal, chego falando palavras daqui. Digo à minha mãe: ‘Me passa não sei o quê da geladeira’ (em Portugal, chama-se frigorífico)”, gargalha.
Morador do Leblon, Ricardo Pereira escolheu o local da entrevista ‘ a Lagoa Rodrigo de Freitas -, onde chegou pedalando sua bicicleta. “Eu me apaixonei pelo Rio. Acho que tem muita tranquilidade no jeito de ser do carioca. Sempre que estou em Portugal, a embaixada brasileira me convida para eventos. E eu sempre digo que o Brasil também é meu país. Me adaptei muito bem. Gosto do samba, dos jogos de futebol. O carioca é da praia. É lá que acontece a mistura social”, declara ele, que costuma pegar um bronze em Ipanema.
“É onde me inspiro muito para os meus personagens. Eu também sou formado em psicologia, então sou bom observador. Tem coisas da minha vida em Portugal que ninguém sabe. Tem gente aqui que diz: ‘Eu achava que você era português’. É que é muito tempo de Brasil”, analisa o requisitado ator, que já está escalado para a próxima novela de Miguel Falabella na Globo. “E não serei português”, comemora.
Sete anos de carreira no Brasil
Ricardo Pereira já tem uma história de amor com o Brasil de sete anos. De lá para cá, ele atuou nas novelas Como uma Onda (2004), (2007) e Negócio da China (2008), na Globo, e participou de Prova de Amor (2005), na Record. Segundo o ator, a escalação para sua primeira produção brasileira se deve ao produtor de elenco André Reis. “Em 2002, eu recebi um convite para um teste em Lisboa para a novela Esperança, mas acabaram chamando o Nuno (Lopes). Ele era mais velho e eu, muito novo. Nessa época, eu já fazia novelas em Portugal. Dois anos depois, quando o Walther Negrão disse que queria um ator português, o André lembrou de mim. Ainda assim, fiz testes. Fui o primeiro ator estrangeiro a protagonizar uma novela aqui”, conta ele, que, na trama, era disputado pelas irmãs vividas por Mel Lisboa e Alinne Moraes.
Embora esteja contratado pela Globo, Ricardo volta e meia aparece na SIC, emissora portuguesa. “Ela é parceira da TV Globo. Eu fiz há pouco tempo uma participação na novela Laços de Sangue, que foi supervisionada pelo Aguinaldo Silva. A Susana Vieira também participou. Interpretei um supervilão”, orgulha-se ele, que ainda não sabe bem como definir o Henrique de Insensato Coração. “Ele demonstra ser muito profissional. É um advogado muito ambicioso e correto, só trabalha com uma pessoa meio duvidosa, que é o personagem do Herson Capri”, diz Ricardo.